domingo, 23 de setembro de 2007

Novo (e triste) ditado popular

Existe uma piada de humor-negro que, depois da relutância da polícia em atender uma queixa de furto de celular, creio que já esteja virando um novo ditado popular aqui no Rio:

Carioca nem liga mais para bala perdida: Entra por um ouvido e sai por outro.
Assassinatos à tiros parecem ter virado moda nos arredores da paróquia que eu frequento, começando pelo episódio onde o sacerdote foi baleado. Fui testemunha de situações de embrulhar o estômago em duas ocasiões este ano, que me abalaram - sem trocadilhos - bastante, já que quando criança tive uma experiência como vítima.

Passei por um corpo, da primeira vez, indo para uma festa na paróquia; pessoas aglomeradas em volta do morto comentando coisas como "foi assaltar e morreu". Cheguei no evento bem mal, contornei a igreja fechada para reformas - o evento era em parte para arrecadar fundos - e fiquei por alguns momentos fazendo uma oração rápida para aquela pessoa, que depois eu descobri que era uma testemunha:

O médico, que teria testemunhado o crime [assassinato de um ex-presidiário a cerca de 200 metros de distância], mesmo baleado na perna, ainda tentou escapar, mas os bandidos se aproximaram e atiraram na sua cabeça.
(trecho extraído da Página A)
Semanas atrás, indo para a confissão coletiva em preparação para o TLC (que subiu na semana passada, tenho até algumas coisas para contar a respeito em breve), foi outro homem. Desta vez, somente o carro funerário e duas pessoas por perto, praticamente no mesmo local. Subi a rua chorando, liguei para casa e minha mãe foi me buscar antes mesmo das confissões começarem, não aguentaria passar sozinha novamente pelo homem moreno abandonado desde as duas da tarde no cimento da calçada que depois descobri ser noivo de uma amiga da minha irmã.


Eu até entendo que as pessoas tentem imaginar que uma pessoa morta por tiros possa ser uma pessoa que talvez merecesse, afinal ninguém gosta de acreditar que uma vida sem maiores crimes tenha sido ceifada assim, do nada. Quando a realidade é muito para nós, surgem essas estratégias de auto-defesa, que de alguma forma nos mantêm andando no meio do caos.

Mas é estranho pensar que um hospital é alvejado e o fato não é registrado. E em como são tantos os mortos por causas estúpidas que não se consegue identificar um em particular na mídia, pois depois de tantas repetições nós ficamos anestesiados. Foi um custo achar referências para as mortes do padre e do médico, por exemplo.

Parece que nada disso choca o suficiente para ser notícia.

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